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Entre o sonho e a realidade: Les Demoiselles de Rochefort (Jacques Demy, 1967)

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"The stuff that dreams are made of." Maltese Falcon (1941) Toda vez que vou me adereçar a este filme fico um tanto desnorteado, afinal, como falar de uma obra tão grandiosa ao ponto de ser daqueles raros filmes no qual se pode chamar de 'maior que a vida'? Qualquer tentativa de falar sobre ele se torna quase que automaticamente falha, pois é um filme que lida com algo que é difícil de descrever em palavras: sentimentos, sobretudo o amor, chave mestra nos filmes de Demy, que guia seus personagens para a mais bela alegria ou a decepção mais amarga. Como havia feito com seus filmes anteriores, Demy leva o amor não para Paris,(como já diria uma personagem do filme: pequena demais para aqueles que tem um grande amor) mas para outras cidades francesas, outros casos, novos amores e desilusões. Os caminhões e os feirantes entram ainda de manhã na cidade, trazendo com eles a alegria e os affairs que podem proporcionar. Na mesma estrada, soldados caminham em sentido

À flor do mar (1986) e O Último Mergulho (1992)

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Dois filmes de João César Monteiro revistos após quase dois anos em que tive meu primeiro contato com eles. É curioso notar o quão diferente eles ressoam em mim agora, após esses anos. À flor do mar é um filme de redescobrimento, de viagens, do americano ao português, do cinema à literatura, todo um trajeto para falar do que move as pessoas e a arte em geral: sentimentos. Do estranho que inquieta, no fim, mais um fantasma ao mar, levando consigo a felicidade fadada que deixou com aqueles que ainda estão sobre terra. O Último Mergulho também é um filme sobre cinema (e Rossellini). Aqui o amarela banha tudo, seja o sol, o cabelo loiro de Esperança, as flores ou as lâmpadas que iluminam a espécime de renascimento de Samuel (enquanto em À flor do mar, o azul se mostra presente em cada frame, como se fosse alegria e tristeza, passado e presente, morte e vida). São dois filmes sobre milagres, um, fadado a melancolia, e o outro, prazeroso, duas  ressurreições ("mas tu estás morta"

O Buraco (Tsai Ming-Liang, 1998)

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Prédios decadentes, almas solitárias. Antonioni já alertava sobre o mal do século, aqui ele vem misturado com o mega realismo da Akerman e o mundo idílico do Demy. Um cenário quase que apocalíptico regido pela chuva (difícil não lembrar do Tarkovsky) restritos a um apartamento (isso e o tom lúdico do filme me remeteram um pouco ao A Dama na Água do Shyamalan, mas acho que isso já é muita viagem da minha parte). O desespero é a única salvação. Talvez o final seja muito utópico, ainda bem que o é, de vez em quando é bom sonhar.  

Elle (Paul Verhoeven, 2016)

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A maldição vem do sangue. Muito interessante como o Verhoeven mistura uma típica elegância francesa com sua típica sujeira (algo parecido com o que ele havia feito com seus filmes americanos) que acaba dizendo bastante sobre seus personagens, presos nas suas dualidades. Me lembrou bastante As Lágrimas Amargas de Petra von Kant do Fassbinder nesse jogo sadomasoquista por poder em uma burguesia de aparências com protagonistas acostumadas a exercer suas forças e vontades nos outros, só que se lá o embate era quase que exclusivamente entre mulheres, aqui é praticamente o contrário. Enfrentar o monstro cara a cara em um mundo de falsas imagens, a lei do mais forte.

Toute Une Nuit (Chantal Akerman, 1982)

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Todas as possibilidades da noite. Praticamente o mesmo filme que Akerman faria anos depois com Golden Eighties , só que aqui o shopping é o fim do dia. Amor em todas as suas formas na beleza estranhamente e docemente desoladora da noite, seja numa breve dança, num abraço ou até mesmo numa despedida amarga. De manhã, tudo volta aos eixos.

A Sinfonia dos Malditos de Fassbinder

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Em Fassbinder, opera a lei do dominante, seja pelo sexo, dinheiro ou amor. E os que não se encontram em tal posto, estão condenados ao sofrimento. Não há salvação. Até os seus personagens parecem ter ideia de sua predestinação ao fracasso, mas ainda assim lutam, até que não sobre mais nada. O amor realmente é mais frio que a morte, como prova, ele nos deu Petra von Kant, Peter, Elvir/Elvira e Fox, personagens fictícios e ainda assim tão reais quanto qualquer pessoa na rua. Se não é pelo dinheiro que vem a queda, é pelo amor. O orgulho se vai antes da queda, já anunciava o Precauções Diante de Uma Prostituta Santa (ou depois, no caso de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant ). Tentar comprar o amor, como tentaram miseravelmente Peter, Petra von Kant e Fox, resultando em amargura e morte. De certa forma,   essa predestinação ao fracasso vem do histórico da Alemanha, resultando em uma espécime de nova geração amaldiçoada (tema que reverbera ainda mais em algumas de suas últimas obras

Beau Travail (Claire Denis, 1999)

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Corpos e a estranha (ou melhor, peculiar) poesia que emanam deles. Movimentos e relatos pessoais em terras estrangeiras, melancolia iminente, dançar para esquecer dela.